Luiz Lamas - O Quinteto e a Lei
Nhá Carola
tava triste, cismando, achando que toda a sua vida era cheia de ferida, cheia
de dor. Que não havia sequer uma melhora, um alívio gostoso, parecendo um
cafuné.
Será que seria
meió a gente morre, saindo pra outros arrebó? Nhô Lau, sempre doente que dava
inté dó.
Mariquinha,
coitadnha, sempre foi menina doentia, franzina. Adepois acresceu, torno moça
bunita, toda enfeitada, catita, e encontrou o João, que logo adepois roubou
aquele bonito coração.
Mariquinha,
coitadinha, acreditou na fala do moço bonito, que veio lá da cidade e a ele se
entregou, sem qualquer mardade. Mas logo que tava de buxo cheio, o moço da
cidade mostrou toda a sua maldade. Foi dizendo logo pra ela:
- Casá? Tá
louco gente... eu não sou disso. Se quisé vive comigo, faça a trouxa e me
segue. Tu vai mora comigo, lava roupa pra muita gente.
Lá se foi a
Mariquinha de cabeça baixa e, também, envergonhada. Não queria mais ficá, pros
pai não mais envergonhá.
Nhá Carola
teve, adepois, noticia que sua filha Mariquinha dava um duro danado, lavando
roupa de sol a sol, enquanto o moço bonito bebia que dava dó. Nhá Carola teve
noticia que o descarado, sem-vergonha, trouxe até outro home pra casa, deixando
a pobre Mariquinha com ele, muitas veiz sozinha.
Mariquinha foi
adoecendo e, aos poucos, foi morrendo.
Seu fio,
então, dava inté dó, era magro, barrigudinho, olhava meio esquisito. De veiz em
quando, sentado, balançava o corpo pra frente e para trás, sacudia as mãozinhas
de um modo que assustava e vivia num mundo que era só seu.
Mariquinha
morreu fraquinha, amarela, cheia de uma tar doença que chamava venérea. Tonico,
seu fio, o moço bonito da cidade trouxe pra nhá Carola olha, dizendo que não
era pai de atrocidade tal.
Nhá Carola, já
há dois anos criava aquela criança, que idolatrava. Naquele dia tava cansada de
vivê, de andá em tão triste estrada, e pensava inté em morrê. Um baita sono
veio ao seu encontro. Nhá Carola adormeceu, e logo um sonho ela teve. Viu ela e
o nhô Lau muito ricos. A mesa coberta de fartura, com escravos morrendo de
fome. Tinha um filho bonito que era agora a falecida Mariquinha, e compreendeu
que, a moça de agora, sofria os desvarios de outrora. Viu, ainda, a Mariquinha
no corpo daquele moço bonito, juntamente com ela mesma, batendo na cabeça de um
negro escravo, deixando-o inté abobado. Reconheceu neste escravo o Toniquinho
que acolheu. Nhá Carola estremeceu: então a vida era assim, o que se fez ontem
tem que se pagar hoje? Tanto poderio, tanto dinheiro e agora tão pobre, tudo
pruquê não dava comida pros coitado dos escravo. Tinha que senti na carne o que
fizera no passado.
Mariquinha,
coitadinha, tinha que sofrê, tinha que senti o que fizera, para dar mais valor.
O escravo em que batera, agora era o filho dementado, que tivera como legado.
Nhô Lau rico,
cheio de saúde, não ligava pros pobres, pros doentes. Agora vinha sem dinheiro
e, por cima, muito doente.
Nhá Carola
somente pensava: e Toniquinho, qual mal feiz? Será que ele veio somente sofrer
atrozmente?
Nhá Carola
viu, então, de Toniquinho uma outra encarnação. Era um homem estudado, que
abria as cabeças de indigentes só pra vê o que tinha dentro.
Nhá Carola
acordou, escuitando a voz do Instrutor:
- Essa, minha
filha, é a Lei imutável, e que também é irrevogável. A Lei de Ação e Reação a
burilar nosso coração. Ninguém sofre em vão. Todo o mal é oriundo de alguma encarnação.
Avante pois, ergas a cabeça, enfrentes tudo com realeza.
Assim queridos
irmãos, aqui está uma história que conheci, e parte dela convivi em antiga
encarnação.
Sou um poeta
caipira, a procura de um médium que ainda oferece resistência e talvez, com a
freqüência, eu consiga, um dia, manifestar-me de modo fluente e mais
convincente.
Luiz
Lamas
Psicografada
no núcleo de trabalho, na noite de 24/07/1989.
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